RELEMBRANDO



Não há como padronizar algo que não deve seguir padrões. Confesso que no inicio foi o desejo seguir contando dia após dia, história após história lembrar do nome de todos, mas não foi o que aconteceu; outro rumo tomou. Aprendi, não sou eu quem estou no controle. Apartir de agora vocês conheceram muitas histórias daqueles que moram embaixo daquela marquise.
A primeira parte foi reunir pensamentos, sonhos, desejos, idéias não é fácil mais aconteceu.
O segundo passo foi escolher onde nossa trincheira ficaria. A batalha nos chama, vamos a guerra!

1º Dia
Relembrando 21 de outubro de 2012, como esquecer a expectativa que estava em nossos olhos?
Nosso coração batia em ritmo diferente, nossas palavras em ação.
Nossa espera era por estômagos famintos, e mais por espíritos sedentos.
Mais o que encontramos?
Foi nossa “grandeza” onde não havia nada.
Mais enfim as palavras nos animaram, outro destino nos espera.

2º Dia
28 de outubro de 2012.
Cama, transporte, destino, amigos, café com leite, pão de milho.
Simples não? Talvez.
Mais para muitos Luxo.
Nosso destino nos aguarda: rua, viaduto, papelão, cachorro, calçada, papelão novamente.
Tudo recalculado, repensado onde nossa grandeza esteve nada restou a não ser nossa pequenez. Ali sonhos enterrados, histórias caladas, talentos sufocados.
O que buscamos?
Buscamos faces, histórias.
O que esperamos?
Esperamos tirar as pedras das sepulturas.

3º dia
Folga.
Tanque vazio não anda, é bom parar e abastecer.
Constrangimento por adiar planos? Não.
Até 11 de novembro de 2012.


4º Dia
Amor real onde me escondo (Felippe Abreu).
Meu esconderijo?
Teus braços, ao contrário de lá; onde o esconderijo não existe não existe, nem paredes, e na maioria das vezes olhos cegos para Teus braços, o meu esconderijo.
Única fuga é a fumaça ou um, dois, três litros.
Queremos construir paredes, queremos abrir os olhos para Teus braços.
Receber quem nos recebeu, tem nome de um dos Teus: Paulo, há o Paulo sorriso amarelo, pele morena, olhos com água, água que caíram. Ofereceu o que tinha, que gesto!
E nós o que oferecemos? Caridade? Restos?
Não, não, não algo mudou.

Continuação do 4º dia.
Horas, dias, semanas se passaram e só um gerador de energia para fazer parar aquela manhã.
Encontramos lá: Histórias, vidas encontramos nomes, Paulo ao chegarmos veio ao nosso encontro sorriso amarelo, pele morena, feridas acumuladas, pés rachados, roupa surrada; o Índio.
Não negou o vicio queria R$ 0,50 para uma branquinha, e nós? O que queremos lá?
Queremos transformar, e mais queremos ser transformados.
Primeiro contato com aquela realidade foi ele índio, ex-caminhoneiro, família do RS, pai de filhos ausentes, traído, desiludido, chutou o balde. Foi ele o nosso guia, primeiro amigo que encontramos lá. Um de nós foi presenteado com o pouco que ele tinha, chaveiro quebrado foi um marco esse gesto; gesto que nos fez prosseguir. Mais fez um pedido; há duas semanas sem banho queria sabonete, também queria capa de chuva, mochila e até um cobertor. Esmola?
Não! Necessidade.
O cobertor empoeirado que tinha, foi queimado com ele, é queimado, incendiado em pleno centro, pessoas são incendiadas.
 Racismo? Preconceito? Diversão?
Não sei, não tenho respostas. Mais pessoas são incendiadas.
Desde o primeiro domingo até hoje 13 de janeiro de 2013 ele já descreveu vários pontos de origem; primeiro foi estado do RS após SP e por último, ou melhor, até voltar ao primeiro foi o MS. A sua história o acompanha, motorista, marido traído, pai de filhos ausentes. Talvez essa é a sua única lembrança ou a última novidade que tenha a nos contar. Além de seus dias nas calçadas seus amigos que o cuidam, a única certeza que temos é sua antecedência: Índio.
“Com todo respeito e delicadeza posso pedir a senhora”
Já conhecemos ou melhor pensamos que o conhecemos, ninguém é poupado de sua história, mesmo que já tenha ouvido.
Já mudou da calçada do banco para frente da rodoferroviária para a grama da rodoferroviária.
Domingos cheirando uma branquinha, outros falta de banho mais sempre lá.
Esse é o Índio, seu passado incerto mais acredito que com futuro garantido.
Confie Naquele em quem confiamos.
(História de Paulo, o Índio. Até 13 de janeiro de 2013)
 
(Imagem: Google.com)